Bica dos Frades: o patrimônio escondido sob o tempo e o mato
- 10 de jun.
- 2 min de leitura
Por Fabrício Vasconcelos
Turismólogo
Em meio às ruas históricas de Penedo-AL, há um ponto quase esquecido pela pressa dos dias atuais: a antiga Bica dos Frades, também conhecida como Bica das Freiras, Bica do Tourinho ou simplesmente Bica do Cuscuz. Um nome, muitas histórias e uma certeza: este é um dos mais importantes vestígios arqueológicos e patrimoniais da cidade.

Uma bica que resistiu aos séculos
Redescoberta em 1983 por historiadores e pesquisadores, encoberta por vegetação e anos de esquecimento, a bica se revelou como a ruína de um chafariz público do século XVII, possivelmente ligado à Capela de São Gonçalo do Amarante e a um antigo recolhimento carmelita. A estrutura foi atribuída à iniciativa do capitão Antônio Amorim e fiéis da freguesia, em 1632.

Essa bica abasteceu a população de gerações passadas e serviu como ponto estratégico de urbanização, inserida num conjunto arquitetônico com escadarias gêmeas e espaço para banhos. Mais tarde, em 1712, um tanque foi anexado à estrutura, passando a ser conhecido como Tanque dos Frades, que ainda hoje sobrevive — em parte — sob ruínas.

Lenda, pedra e argamassa
Com o tempo, a Bica foi envolvida em lendas locais, como a registrada por Ledo Ivo, que falava de um frade sem cabeça que guardaria um tesouro no local. Embora o mistério permaneça, o que se pode ver com clareza é a arquitetura resistente da estrutura: pedras, argamassa e tijolos trapezoidais formam uma cúpula única na cidade — conhecida popularmente como "cuscuz" por seu formato.

Escavações arqueológicas feitas pela UFAL e IPHAN revelaram que o sítio sofreu intervenções humanas ao longo do tempo, servindo inclusive para criação de animais e descarte de entulhos. Ainda assim, resiste como testemunho da arquitetura hidráulica do período colonial.

O que torna a Bica dos Frades especial?
É uma das construções mais antigas ainda visíveis em Penedo.
Conecta o presente às formas de abastecimento e vida cotidiana do passado.
Carrega elementos únicos da arquitetura luso-brasileira, como as abóbadas de tijolo moldado.
Representa a urgência de preservar a história material e imaterial da cidade.
Preservar para contar
Infelizmente, a degradação do local é evidente. Muitas partes estão em ruínas e o abandono compromete sua integridade. Para quem trabalha com turismo cultural e educação patrimonial, como a Mais Tour, é vital que essa estrutura seja recuperada, sinalizada e valorizada como ponto turístico e educativo.
Visitar a Bica dos Frades é reencontrar as raízes da cidade, mesmo que elas estejam parcialmente cobertas por barro, mato e silêncio.
Fonte principal:
ALLEN, Scott Joseph et al. A Bica das Freiras. Revista Clio – Arqueológica, v. 26. IPHAN/UFAL, 2009.




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